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Carta lançada ao mar

Se alguém a encontrar, saiba que esta carta é apenas para dizer que passamos o dia observando as nuvens pálidas através dos vidros opacos da janela entreaberta do nosso quarto enfumaçado.
Às vezes um passarinho corta o céu voando rápido para destino desconhecido, velhos urubus cruzam o azul ardente, lentos e calmos, certos do que fazem e para onde vão. Nestes momentos lembramos o passeio no domingo de manhã, quando tiramos um retrato defronte ao sol ardido na lagoa de bem-te- vis atrevidos, nossa imagem refletida na água calma e silenciosa, o remanso do riacho correndo lento sobre os seixos brancos na sombra dos galhos das árvores floridas, o perfume suave da orquídea lambendo a cachoeira, formigas de picada dolorosa,a volta com os sapatos nas mãos ao entardecer, e tudo o mais que aconteceu depois. Por favor, se alguém encontrar esta mensagem não repare na letra, no papel pardo rugoso de embrulhar pão e nem nas manchas de manteiga derretida esmaecendo a tinta azul marinho. Esperamos, apenas, que estas mal traçadas linhas cheguem dentro dessa garrafa jogada ao mar e tragam de volta aquele sorriso aberto ao vento, como antigamente.

Juvenil de Souza ainda usa
tinta e caneta para escrever
cartas de amor. Só que não
sabe escrever cartas de amor
.


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