English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Paisagens

A vista alcança apenas as janelas do
prédio defronte ao quarto onde moramos neste subúrbio pobre e cinzento. Na janela da esquerda a gente vê a velhinha que mora sozinha tricotando talvez um agasalho para um neto que ela nunca mais viu. Na outra janela, um casal briga constantemente na frente dos filhos pequenos. No pequeno alpendre que fica no outro apartamento, tem umas plantas raquíticas e branquelas, sem nenhuma flor.
Quem cuida delas é uma senhora de camisola descorada, cabelos desgrenhados, sempre levando água num regador de lata, na esperança de algum dia nascer uma flor naquele deserto de poluição, fumaça e vapores venenosos.
O prédio tem um bar de portas sempre abertas, onde bêbedos e prostitutas convivem diuturnamente, sem esperanças.
Fechamos os olhos e vemos, outras paisagens, outras visões de um paraíso que acabou; o córrego do Matadouro, o poço do Matadouro, a pedra Escorregosa, as ruas de terra, um jatobazeiro e a jaqueira no pasto, um passarinho verdebrilhante na árvore frondosa, cachoeira no Águas Claras, mergulho sem fim com peixinhos brilhantes debaixo d´agua, a colega de escola pela qual a gente se apaixonou perdidamente, o caboclinh do rio querendo levar para o fundo, a Yara, sereia no rio Pardo chamando de noite... Subitamente, abrimos os olhos e a paisagem é suja e triste novamente.
A mulher continua regando suas plantas e um bêbado briga com uma mulher no bar nessa madrugada cinzenta da cidade grande, para onde a gente nunca devia ter vindo e agora é tarde para voltar.

Juvenil de Souza recebeu convite para entrar num partido político, mas não aceitou porque não quis.

Próximo texto
Página anterior

Nenhum comentário:

Postar um comentário