English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Inventário

Isto é um inventário das coisas que desapareceram da vida da gente: sorvetes de coco queimado e de milho verde; pés-de-moleque do Tibúrcio e do João de Barro, cujos filhos os vendiam pela rua; mangas roubadas nos quintais - bourbon, espada, manga-rosa; coração de boi; família; sabina; poço do Matadouro, o mais profundo do mundo com lambaris ariscos, gambevas e bagres na loca; fritos na frigideira velha que ficava escondida debaixo do pé de ingá; bife de fígado sangrando com um pouco de sal grosso furtado do depósito de couros de boi, frito na chapa de ferro do fogão de lenha onde era fervida a água para limpar porco; o rim do porco cozido e cortado ao meio com gosto de mijo; a reza em latim do padre espanhol dizendo que tudo era pecado na vida; o amigo coroinha pensando que seria santo e não foi; procissões que não acabavam nunca; missa aos domingos de manhã, mais pecados em nossa caderneta com o diabo, cobiçando a menina loira de pernas bonitas
como a cobra cega picando o calcanhar da gente no goiabal do britador, dor que não doeu e que diziam que era proteção contra qualquer outra picada de cobra que houvesse. E muitas outras coisas que a memória da gente não guardou, como os passeios aos domingos lentos na represa, beijos furtivos trocados à sombra daquele jatobazeiro que não existe mais, filmes nunca assistidos no cinema, de mão dadas e bailes que nunca a gente dançou, naqueles tempos de antigamente...

Juvenil de Souza tem pressão baixa.

Próximo texto
Página anterior

Nenhum comentário:

Postar um comentário