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Atrás da vidraça

A gente não se lembra muito bem porque a memória vai ficando fraca, apesar das pílulas de ginko-giloba que meu sobrinho tem enviado para melhorá-la, mas o caso é que na manhã luminosa a gente teve um dia diferente dos outros.
Era no recreio da escola, lá fora a gente ficava conversando, olhando as meninas esperando a hora da merenda que era leite com café e um pãozinho cujogosto a gente sente na boca até hoje.
Pardais chilreavam contentes, o ar era colorido como arco-íris, os vidros das janelas das salas de aula refletiam o sol amarelado que vinha do outro lado da rua. Os flamboyants estavam floridos, espalhando suas flores na grama verdeescura.
O pátio dava de frente para a sala de aula onde a aluna mais bonita da escola estudava. Era a paixão geral, todos olhando e sonhando com ela, cabelos compridos, olhos verdes e doces, fala macia e boca pequena, corpo lindo e sinuoso. Do pátio a gente ficava espreitando, esperando uma oportunidade de vê-la através da vidraça da janela entreaberta.
De repente, por uns minutos ela apareceu no quadro de vidro, como uma pintura de carne e osso. Olhou para todos os lados e quando viu a gente, deu um sorriso claro e limpo e acenou com a mão, toda alegre. A gente não acreditou no que via e tivemos que limpar os olhos, mas ela estava lá, sorrindo como nunca, atrás do vidro transparente com aqueles inesquecíveis olhos verdes, o cabelo como uma cachoeira, torturando a gente até hoje.
Mas foi há muito tempo e, com certeza, ela nem se lembra.

Juvenil de Souza sempre esteve apaixonado e de coração partido.

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