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O bar das ilusões perdidas

Eles - cinco ou seis - dependendo do
dia, se reúnem toda manhã e tarde no
bar das ilusões perdidas, bebem cachaça,
ficam meio bêbados, vão para casa
e à tarde voltam para o bar e cumprem
o mesmo ritual. A idade é indefinida,
o que iguala todos eles, não há velhos
nem jovens. São solidários sempre, na
alegria e na dor. E anarquistas, não têm
documentos nem identidade. E nenhuma
obrigação a cumprir, como comprar
pão na padaria, leite na leiteria e fazer
despesas no supermercado. Nenhum
é casado, e, se algum já teve mulher, é
assunto encerrado, não se fala nisso. O
amanhã deles é o hoje, o aqui agora é
que interessa. Não fofocam, não falam
mal da vida dos outros, não perturbam
ninguém e não têm nenhuma esperança.
Alguma vez se nota no olhar de um
deles um brilho maior, uma sombra na
face, uma recordação de alguma coisa
perdida lá longe, mas é uma coisa rápida,
fugaz como a vida que levam, sem ilusões
e sem horizonte. É uma felicidade
barata e consciente: cada qual leva a vida
que quer, é o ditado maior que cumprem
com fidelidade no bar das ilusões perdidas.

Juvenil de Souza, anarquista
de carteirinha, não freqüenta o
bar, mas bem que gostaria.


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