Devolva...

Por favor, devolva as tardes que passamos juntos nos domingos ensolarados; as cartas falando de amor, seladas com sangue e saliva; as promessas sussurradas na última sessão de cinema; a manhã de frio quando a gente se beijou no alpendre, escondidos como lobos; por favor, devolva a serenata de violões e poesias na madrugada; a cesta de mangas maduras que mandamos pela Mogiana; as dúzias de rosas roubadas do jardim florido; o beijo atrás da porta; a partitura da música para piano; o livro do poeta preferido; os discos riscados; a sacola roubada de jabuticabas maduras; a água da mina gelada; a noite estrelada debaixo das árvores floridas; o passeio de canoa descendo o rio de madrugada, peixes saltando. Por favor, devolva o sorriso alegre que a gente tinha; o encontro sem querer na rodoviária da cidade desconhecida; a viagem no ônibus com chuva, janelas travadas, pertos e tão distantes; devolva a festa de formatura; o retrato em preto e branco com moldura de ferro; o anel de pedras falsas; o brinco de turmalinas; o lenço de seda; a noite de amor debaixo do limoeiro florido e perfumado no quintal escuro da casa silenciosa e cães latindo; e todas aquelas promessas de amor. Por favor, devolva...

Juvenil de Souza não
sabe a diferença entre uma
fatura e uma duplicata.

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